Liane Coral

Liane Coral

segunda-feira, 9 de março de 2015

Teatro de Papel

Também conhecido no japão como Kamishibai (drama de papel) o Teatro de Papel é uma das formas mais populares de representação, este método de contar histórias manteve-se durante vários séculos, mas possivelmente só se tomou consciência desta pratica nos ínicios dos anos 20 até aos anos 50. O contador de histórias chegava de 
bicicleta ou a pé e batia com pedaços de madeira unidos por uma corda para anunciar sua chegada. Felizes, as criancas eram as primeiras a chegar e se sentar em volta do pequeno palco.
Quando eu era criança, as tias do culto infantil, principalmente a Tante Meta e a  Frau Figur , contavam histórias com figuras que iam colocando num flanelógrafo,coisa que nossas crianças nem sabem o que é, mas que para nós , eram muito legais.Quando ouvi falar do Teatro de Papel fiquei encantada.Procurei e vi que existem contadores que usam figuras dos personagens recortados que entram em cena presas em um palito e tem outros que desenham as imagem completas e vão contando a história abrindo as figuras uma após a outra.A primeira história que fiz foi "A barra de Chocolate" do Pedro Bandeira esse autor fabuloso de histórias fantásticas.Quando contei pela primeira vez fiquei muito animada, pois as crianças ficaram muito atentas e curiosas sobre como seria a próxima imagem...Como eu ficava quando era criança. Foi muito inspirador e acabei fazendo várias histórias que com o tempo vou apresentando pra vocês.

                                                       A BARRA DE CHOCOLATE








                                A barra de chocolate

Acompanhado do Pisco, o cãozinho mais companheiro que um garoto pode ter na
vida, Cláudio voltava para casa, depois de uma partidinha de futebol com os amigos.
No caminho, lá estava a confeitaria.
Beleza! Vitrina como aquela era mais bonito de ver do que vitrina de loja de brin-
quedos. Afinal, Cláudio já estava grande demais para brinquedinhos. O que ele gostava mesmo era de jogar bola. Bom, ele gostava também de empinar pipa, de videogame, de futebol de botão e poucas coisas mais. Tudo do mesmo jeito e do mesmo tamanho que ele gostava de... de chocolate!
E ali estava a vitrina com bombons, caramelos e... enormes barras de chocolate!
Ai, que vontade de comer chocolate!
O preço estava ali mesmo, em etiquetas coladas nos doces. Uma fortuna!
Cláudio revistou cuidadosamente os bolsos, mas já sabia o que iria encontrar lá:
duas tampinhas de garrafa, um botão grande de casaco que ele pretendia esfregar bastante no cimento até ficar bem lisinho e entrar para o seu time de futebol de botão, uma fieira de jogar pião, um toco de lápis vermelho sem ponta, um soldadinho de plástico, um maço de figurinhas para troca, uma bisnaga quase vazia de cola para fazer pipa e quatro caroços de pitanga. Tudo eram coisas muito necessárias, mas não havia dinheiro. Nem um centavo.
O menino fez uma força danada para ir embora. Mas, da mesma forma que seus
olhos não desgrudavam das barras de chocolate, seus pés não queriam sair do chão.
Ai, que vontade de comer chocolate!
Mas, sem dinheiro, o que fazer?
Por que tudo que é bom é tão caro? Que nem aquele par de patins que o pai prome-
tia comprar “quando suas notas fossem boas na escola”. Daí, as notas do Cláudio ficaram ótimas e o assunto do presente foi adiado para “quando as coisas melhorarem...”
– O que será isso de “coisas melhorarem”, Pisco? Ah, se eu pudesse comprar essa
barra de chocolate, aí é que as coisas iam ficar bem melhores...
Ao seu lado, Pisco não parecia nada interessado em chocolate. Coçava a orelha
com a pata de trás e esperava calmamente, até que seu dono decidisse para onde ir.
Dentro da confeitaria, Cláudio viu uma senhora abrir a bolsa e pagar a conta na
caixa. Pegou seu pacote, virou-se e saiu apressada.
Mas o menino reparou que, quando a mulher remexeu na bolsa, uma nota tinha ca-
ído no chão. Mesmo dali, da entrada da loja, ele podia ver que era uma nota de alto valor, que dava para comprar várias barras de chocolate!
Pelo jeito, só Cláudio tinha visto o dinheiro cair no chão. Ninguém mais tinha perce-
bido. O homem que atendia no balcão estava entretido com seu trabalho e, de onde estava, a moça da caixa não podia enxergar a nota caída.
Nem o Pisco deu atenção. Bem, se a tal senhora tivesse deixado cair um bom osso,
a coisa seria diferente. Os cachorros preferem ossos a chocolate.
“Dinheiro dos grandes!”, pensava o menino, olhando para a nota. “E ninguém está
vendo. Acho até que dá pra comprar os patins com essa grana. E ainda sobra para a barra de chocolate... Imagine, que mulher distraída, pra deixar cair dinheiro assim e nem notar!”
Com o rabo de um olho, via a barra de chocolate, com nozes e mel, quietinha, ali na
vitrina. Com o rabo do outro olho, lá estava a nota...
Cláudio demorou só um segundo pensando nisso tudo e tomou sua decisão: em
três passos, entrou na confeitaria, abaixou-se, pegou a nota e saiu correndo porta afora.
Mas aquele segundo de pensamento deveria ter sido longo demais. Olhou para os
dois lados da rua e... nada da mulher que tinha perdido o dinheiro!
– Cadê ela, Pisco?
– Au, au! – respondeu o Pisco, feliz por correr junto com o dono.
– Venha, Pisco! Acho que ela foi por ali!
– Au, au!
Cláudio virou a esquina. Tinha pouca gente na rua e nenhuma era a senhora com a
bolsa e o pacote.
Na sua mão, a nota enrolada parecia queimar-lhe a palma.
“Se fosse a barra de chocolate, já estaria derretida...”, pensava ele.
Mas, ao mesmo tempo, sua preocupação era outra:
“Como é que uma senhora como aquela pode andar tão depressa?
Pisco deu meia volta e disparou para o outro lado.
– Ei, Pisco! Aonde você vai? Volte aqui!
– Au, au! – latiu Pisco, parando na outra esquina, como se tivesse entendido o que seu dono procurava. Com a linguinha de fora, olhava para Cláudio.
Cláudio correu e olhou para onde o cachorrinho latia. Lá ia a senhora com seu pa-
cote, andando rapidinho.
– Dona! Espere um pouco!
A mulher parou e olhou para trás. Achou meio estranho aquele menino e aquele
cachorro correndo em sua direção. E, depois, ficou foi surpresa quando viu o garoto chegar e estender-lhe a mão. Dentro dela, havia uma nota meio amassada.
– Dona, a senhora deixou cair este dinheiro no chão...
A mulher parou, olhou e aceitou a nota com um belo sorriso de agradecimento:
– Obrigada, menino – disse ela, enquanto procurava outra nota na bolsa. – Você
merece uma recompensa! Por favor, aceite isto e compre alguma coisa para você.
Cláudio chegou em casa feliz da vida. Os dedos estavam manchados de chocolate.
Mas, no coração, estavam as marcas gostosas de um sentimento forte, mais intenso e doce que qualquer chocolate do mundo.

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