Liane Coral

Liane Coral

terça-feira, 17 de março de 2015

Bertold Brecht esse é o cara que entendeu seu tempo e conta tudo pra você em versos e dramaturgia


Quando estudamos os regimes totálitários ,
o nazifascismo, a II Guerra Mundial,
 os alunos ficam muito sensibilizados.
São temas pesados e que nos fazem pensar sobre os trilhos por onde a história caminha.
Esse é um bom momento pra gente apresentar  Bertold Brecht aos alunos. 
Ele soube traduzir como ninguém  em seus poemas e em seus textos de dramaturgia a época em que viveu.Prato cheio para refletir sobre esses temas que são estudados no 9° Ano. Em 2010,   levei alguns textos aos alunos e propus que eles pensassem numa forma de apresentá-los na biblioteca da escola. 
Eles se saíram muito bem.Usaram músicas , recitaram dramatizaram foi um momento muito bacana e de muita reflexão. Aí estão alguns dos poemas apresentados.



Aos Que Virão Depois De Nós

Eu vivo num tempo sem sol.
Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez, uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ri ainda não recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando falar sobre árvores é quase um crime, pois significa silenciar sobre tanta injustiça!
Aquele que cruza tranqüilamente a rua já está então inacessível aos amigos que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver , mas acreditem: é por acaso. Nada do que eu faço me dá o direito de comer quando eu tenho fome. Por acaso eu estou sendo poupado ( se a minha sorte me deixa, estou perdido).
Me dizem: come e bebe! Fica feliz por teres o que tens! Mas como é que eu posso comer e beber se a comida que eu como , eu tiro de quem tem fome? Se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo. Eu queria ser um sábio. Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria: se manter afastado dos problemas do mundo e sem medo, passar o tempo que se tem para viver na terra; seguir seu caminho sem violência, pagar o mal com o bem, não satisfazer os desejos, mas esquecê-los. Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim. É verdade , eu vivo num tempo sem sol!
Eu vim para a cidade no tempo da desordem, quando a fome reinava. Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta e me revoltei ao lado deles. Assim se passou o tempo que me foi dado viver sobre a terra. Eu comi o meu pão no meio das batalhas, para dormir eu me deitei entre os assassinos. Fiz amor sem muita atenção e não tive paciência com a natureza . Assim se passou o tempo que me foi dado viver sobre a terra.
Vocês, que vão emergir das ondas em que nós perecemos, pensem, quando falarem das nossas fraquezas, nos tempos sem sol de que vocês tiveram a sorte de escapar. Nós existíamos através das lutas de classe, mudando mais seguido de país do que de sapatos, desesperados, quando só havia injustiça e não havia revolta.
Nós sabemos: o ódio contra a baixeza também endurece os rostos! A cólera contra a injustiça faz a voz ficar rouca. Infelizmente, nós, que queríamos preparar o terreno para a amizade não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos. Mas vocês, quando chegar o tempo em que o homem seja amigo do homem, pensem em nós com um pouco de compreensão.




Nossos inimigos


Nossos inimigos dizem: 
"a luta terminou". 
Mas nós dizemos: 
"ela começou".
Nossos inimigos dizem:
"a verdade está liquidada".
Mas nós dizemos:
"nós ainda a conhecemos".
Nossos inimigos dizem:
"mesmo que ainda se conheça a verdade, ela não pode mais ser divulgada".
Mas nós a divulgamos.

    

Se os tubarões fossem
homens
Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.
Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias, cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma
atadura a fim que não morressem antes do tempo.
Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.
Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões.
Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos.
Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.
Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência.
Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.
Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre sí a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.
As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que entre eles os peixinhos de outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro.
Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos
Da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.
Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, havia belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nos quais se poderia brincar magnificamente.
Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.
A música seria tão bela, tão bela que os peixinhos sob seus acordes, a orquestra na frente entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos .
Também haveria uma religião ali.
Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.
Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.
Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da construção de caixas e assim por diante.
Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

INTERTEXTO

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Nada é impossível de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.








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